Quando a hora da refeição vira um campo de batalha (e o que fazer em vez de continuar a lutar)
A hora da refeição devia ser um momento de encontro, de conversa e de ligação… mas para muitas famílias, é exatamente o contrário.
Se sente que está sempre a insistir para que o seu filho coma “só mais uma colher”, e cada refeição acaba em birras tem de ler este artigo.
Primeiro ponto. A verdade dura de ouvir: forçar não resulta
Quanto mais insistimos, mais resistência criamos.
E não, isso não significa que a criança é teimosa, manipuladora ou preguiçosa.
Significa, muitas vezes, que ela está a comunicar da única forma que sabe: recusando o que lhe causa desconforto, medo ou falta de controlo.
E porque não serve de nada dizer que não resulta sem lhe dar ajuda, dou-lhe 5 trocas simples e poderosas.
Troque forçar por explorar
Deixe a criança mexer na comida. Fazer um “chiqueiro” com os alimentos é uma forma de conhecer texturas, cores e até cheiros. tudo sem pressão à medida da disponibilidade dela.
Troque esconder os alimentos por falar sobre eles
Em vez de disfarçar os legumes no arroz, fale sobre eles. “Sabes que este brócolo parece uma árvore?”. Esta simples frase pode abrir espaço para a curiosidade (e não para a rejeição).
Troque o tablet por ligação.
Em vez de refeições em frente a desenhos animados, experimente ver vídeos da família a comer junta. A modelagem começa no que se observa.
Troque os 15 minutos da Bluey por 15 minutos a brincar
Uma cozinha de brincar prepara o terreno emocional para o momento de comer de verdade.
Troque a refeição solitária por refeição em família.
Comer é mais do que alimentar o corpo — é também um momento de conexão, segurança e exemplo.
Agora pergunta: "Mas isto vai resolver o problema?"
Agora eu respondo: "Depende do problema. Pode não resolver na totalidade mas tenho a certeza que ajuda a melhorar.
Veja isto como "trocar o café por água não resolve o problema da tensão alta mas ajuda a que ela não suba".
Há muitas causas possíveis para a recusa alimentar e todas merecem ser olhadas com atenção:
· Alta ou baixa sensibilidade aos sabores, texturas e temperaturas
· Experiências negativas associadas à comida
· Refluxo ou azia (que causam desconforto físico)
· Baixa força nos músculos da boca
· Amígdalas aumentadas
· Necessidades sensoriais específicas
E tantas outras. É por isso que esperar para ver nem sempre é a melhor escolha, e se sente que a hora da refeição está a desgastar a família mais do que a nutrir, pode ser hora de procurar apoio. Um terapeuta da fala, um terapeuta ocupacional ou um profissional da área da alimentação infantil pode ajudar a perceber o que está na origem da recusa e como agir com segurança e intenção.
Lembre-se: o problema não é só a comida. É tudo o que ela representa: controlo, relação, experiência, corpo, segurança.
Comece por parar de lutar.
Comece a observar.
E troque o “come só mais uma colher” por uma pergunta: “O que será que a minha criança precisa neste momento?”
Se este artigo ressoou consigo, partilhe com outras famílias.
Talvez elas também estejam a precisar de ouvir que não estão sozinhas... e que há outras formas de fazer.
Abraços Pediátricos,
Cátia Raminhos
Terapeuta da Fala
Coordenadora Clínica